por Camila H. Coletti
Enoturismo no Uruguai 2015 – Publicados: PARTE 1 – PARTE 2 – PARTE 3
Muito além do Tannat, a primeira descoberta no enoturismo do Uruguai é a incrível adaptação de diversas uvas tintas e brancas
O famoso Tannat oriundo de terras francesas, da região de Madiran, se adaptou muito bem ao “terroir” uruguaio, tema mais do que abordado e de conhecimento dos enófilos e dos apaixonados por vinhos.
O Tannat expressa-se muito bem sob as mãos hábeis de um bom enólogo nas terras uruguaias. Expressa-se com virilidade e uma elegância subjacente, que encanta e atesta que veio para ficar. Mas embora a uva Tannat e seu vinho tenha tornado-se símbolo do país, a grande descoberta fica por conta das demais cepas, da hospitalidade do povo e de locais já bem preparados para receber o visitante apreciador de vinhos.
Como editora da revista Eno Estilo especializada em vinhos e lifestyle eu fui convidada, a uma “press trip” para conhecer como anda o enoturismo uruguaio e o cenário das uvas vitiviníferas, adaptadas no “terroir” local.
Estive no Uruguai em agosto de 2015, a convite da empresa Senderos del Tannat, que se dedica a roteiros focados no enoturismo no país. A Senderos del Tannat organizou e executou todo o programa da viagem, para que eu pudesse experimentar de fato, um pouco do que o enoturismo no Uruguai tem a oferecer.
Meu tempo foi curto, de apenas uma semana mas muito bem aproveitado com o roteiro da Senderos del Tannat.
O conteúdo, o relato da viagem, seus destaques, incluindo vinhos e fotos, estão sendo publicados no canal de viagens enogastronômicas no setor Enoturismo no Uruguai, local que agrupa minhas aventuras, com uma taça na mão.
A época, pleno inverno, visualmente falando, não seria a mais propícia, já que não haveria o encanto das parreiras cobertas de uvas, e nem eu poderia apreciar a colheita e os primeiros trabalhos para a elaboração do vinho. No entanto, alguns meses após a colheita da uva, vem a colheita do resultado da safra do ano, privilégio apenas para quem pode estar no país de origem do vinho nesta época, já que ele demora algum tempo para chegar ao Brasil e nem sempre o importador coloca a nova safra no mercado, antes de finalizar a anterior. No enoturismo há o que descobrir o ano todo.
O frio foi bem inferior ao que eu supunha, os primeiros dias mais frios, semelhante aos dias de temperatura mais baixa em São Paulo durante o dia, e um pouco mais frios durante a noite, mas como os hotéis tem sistema de aquecimento e calefação, só perceptível em ambientes externos.
As ruas e estradas estavam tranquilas, com menos movimento, do que imagino seja na vindima (colheita), que ocorre por volta de fevereiro, em pleno verão. Desfrutar em primeira mão dos vinhos da safra 2015, alguns já lançados e outros em pré lançamento, que pude conhecer pela gentileza dos enólogos e produtores, diretamente das barricas, foi uma experiência fascinante. O vinho no auge de seu vigor e frescor, sem o transtorno do transporte e das intempéries ocasionadas durante o trajeto. Degustei vinhos brancos, rosés e tintos já da safra 2015 e diversos outros.
Podem ver alguns vinhos uruguaios da safra 2015 publicados nas matérias, com links ao final desta matéria, ou no setor Enoturismo no Uruguai
Rumo ao enoturismo no Uruguai de taça em punho.
A escolha da Senderos del Tannat, para me apresentar uma visão ampla do cenário do enoturismo no Uruguai, recaiu sobre 4 regiões, no país chamadas de departamentos, que seriam equivalentes aos nossos estados.
Em um extremo de nossa rota, a cidade de Carmelo, no departamento de Colonia e no outro a famosa Punta del Leste, no departamento de Maldonado, num trajeto de 368 km entre as duas cidades.
Colonia, que conta oficialmente com 15 bodegas catalogadas, tem como capital a bucólica cidadezinha Colonia del Sacramento e como destaque para o enoturismo, a cidade de Carmelo.
Canelones é o departamento que tem o maior número de bodegas, conta com 255 é bem próximo a Montevideo, que é praticamente envolto por ele.
Montevideo a capital do país, que assinala um registro de 126 bodegas.
Maldonado que registra 7 bodegas e a luxuosa cidade de Punta del Leste, um dos 10 balneários de luxo mais cobiçados do mundo, terra de cassinos, resorts e que mais recentemente vem sendo descoberta também, pelo enoturismo.
Cheguei no Aeroporto Internacional de Carrasco, que situa-se no departamento de Canelones nas proximidades de Montevideo e meu destino inicial foi Colonia e nela a cidade de Carmelo.
Colonia é um departamento à oeste de Montevideo que fica exatamente em frente a Buenos Aires, separado pelo famoso Rio La Plata.
A atualmente singela e cativante cidade de Colonia del Sacramento é a sua capital e foi fundada pelos portugueses em 1680 tendo sido palco de disputas entre Portugal e Espanha. A região foi protegida como patrimônio cultural e natural mundial, em 1995 pela Unesco.
Colonia del Sacramento está a 180 km de Montevideo é um local ímpar chegando a ser bucólico, uma evocação ao passado, a beira do Rio. Ruas graciosas, esquinas famosas e locais que despertam a vontade de sentar-se e ficar um pouco mais. Uma bela taça de vinho completa o cenário. Pleno inverno, mas o clima local aquece a vontade de permanecer, imagino o que deva ser o verão, com as “heladerias” oferecendo variações de sorvetes de doce de leite, mirtilos e certamente os sorvetes de Tannat. Um dia me hospedo por lá, para descobrir estes e muitos outros caprichos locais. Veja fotos de Colonia del Sacramento.
Desta vez o meu roteiro me permitiu algo mais ousado, fiquei hospedada em um vinícola, a Posada Campotinto, não na região, mas a cerca de 40 km dela, na cidade de Carmelo.
Neste departamento, de Colonia, eu visitei 6 bodegas. Das muito pequenas em estruturação, às grandes, cada uma me ofereceu um pouco da personalidade do local, do vinho e do povo cativante, de coração aberto, que recebe seus visitantes com o carinho familiar. Um local que foge às grandes estruturas e te coloca em contato com um lado mais lúdico. Em algumas bodegas este fator se destaca, locais onde você se sente no seu grupo de amigos, aquilo que o vinho deve ser, partilha, reunião, bons papos, descobertas e muita alegria em momentos aconchegantes. Assim é Colonia, assim é o Enoturismo de lá. Tudo é cuidado com capricho nos detalhes, cada canto tem um encanto especial. O local tem uma identidade marcante e encantadora. Se no outro extremo do trajeto encontrei a Punta del Leste luxuosa em oferecer a opulência e o charme que está associado ao poder econômico, Colonia e mais precisamente Carmelo oferecem a outra face do luxo, muito mais rara, o encantamento e aconchego de quem recebe de coração aberto. Requintes da alma, que apenas o dinheiro, não pode comprar e oferecer.
Rumo a Carmelo em meio a campos e muita planícies, a primeira bodega visitada na saída de Colonia del Sacramento foi a “Bodega Los Cerros de San Juan”.
Um vinícola antiga que conta muito da história da região. Iniciada por alemães, a família Lahusen em 1854 que trazia consigo larga tradição vitivinícola, selecionou o local embasada nas características do leito do rio, repleto de gravas (pedras roladas), similar a região de Bordeaux. Era o ponto exato para o plantio dos primeiros vinhedos, trazidos da Europa.
Na região foram se estabelecendo outras famílias provenientes da Alemanha, França, Itália e Irlanda.
Uma propriedade grande com ares de fazenda de época, com vilarejo, conta com 221 hectares cerca de 91 alqueires paulistas.
Nela são produzidas as uvas em 45 ha de vinhedos plantados, com as variedades:
Brancas: Riesling, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Gewürztraminer
Tintas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Tempranillo, Pinot Noir.
Vinhos degustados: A análise de alguns deles será inserida no banco de vinhos da revista Eno Estilo.
Veja mais sobre o vinho Lahusen Pinot Noir 1854 – Los Cerros de San Juan
Pé na estrada… Chegamos à cidade de Carmelo e seguimos à “Campotinto – Bodega e Posada”, local da minha primeira hospedagem no roteiro.
Ao contrário da bodega anterior, que carrega anos de história, a Campotinto é muito recente, novinha em folha, muito bem cuidada para cativar em cada detalhe e a sua história será escrita pelo local encantador, pela hospitalidade a toda prova e especialmente pelos Tannats arrojados repletos de entusiasmo, para perpetuar sua trajetória.
Eu fiquei apaixonada pela safra 2014 que ainda não estava com o engarrafamento concluído, estava sem o rótulo. Queria ter trazido uma garrafa dela. Sensacional! Colocarei minhas impressões no banco de vinhos degustados da revista.
Degustei também o Tannat 2015 que está em evolução na madeira… Que espetáculo! Promete e preconizo que irá cumprir.
O bom de curtir o Enoturismo é este prazer que nós -apreciadores de vinhos- temos quando podemos conhecer mais a fundo um pouco deste universo.
Fiquei por bom tempo, na cava, com o produtor Diego Vigano e o enólogo Daniel Cis, no final da tarde, conversando em meio ao repouso dos vinhos, as barricas e as nossas taças. Entendendo, comparando e tirando dúvidas, sobre a força rústica do Tannat, versus a elegância que algumas vinícolas alcançam no trabalho com ele, em “terroir” uruguaio. Este é o significado de fato, que os franceses dão para o conceito de “terroir”, o espaço físico, o vinhedo em si, com as condições locais, situação geográfica, clima, solo, tudo associado à “expertise” do homem, o trabalho conjunto do enólogo, do produtor e do vinicultor. Este conjunto, esta somatória de fatores determina o resultado da expressão da uva, no produto final, o vinho.
Foram degustados os vinhos:
Tannat Campotinto Reserva 2013
Tannat Campotinto Reserva 2014
Tannat Campotinto 2015 – Prova de barrica.
O lugar é gracioso e o atendimento à toda prova, recebem muito bem, até alfajores sem glúten e bolachinhas especiais, eles conseguiram para o meu café da manhã.
A pousada é pequena, com apenas 4 suites, muito bem montadas e completas. Tem um serviço de fazer inveja a espaços tradicionais e famosos. Tudo é cuidado com carinho para que a estada seja agradável.
Contam com um restaurante impecável, que atende muito bem àqueles que como eu, tem uma alimentação diferenciada, um restaurante com requintes de cidade grande, cercado de campos de vinhedos, em meio à campestre e promissora região de vinhos, Carmelo.
Dormi no paraíso, aquecida, apesar do frio lá fora, que no dia seguinte desenhava raios de sol no vapor do vidro de minha janela, entre as alfazemas, que tentavam mostrar suas flores e bem sucedidas, eu quase podia sentir o perfume delas.
por Camila H. Coletti
Editora
Na sequência, minha visita a mais 4 bodegas na região de Carmelo – Colonia.
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Veja os vinhos do Uruguai da safra 2015
Veja todas as matérias e imagens da viagem de enoturismo no Uruguai, já publicadas.
Roteiros e visitas com Senderos del Tannat
Revista Eno Estilo – Revista de vinhos e lifestyle