Vinhos – Temas especiais

Josko Gravner | Um vinicultor em busca da conexão com o universo

Vinhos de Ânforas

revista-de-vinhos-eno-estilo-vinhos--gravner-1Eu faço vinho para meu consumo e vendo o que excede isto.”

Após expressar surpresa com a recepção calorosa e o número de pessoas presentes no disputado evento, a citação acima foi uma de suas primeiras frases, na apresentação que ofereceu na ABS em São Paulo (12 de janeiro de 2015), com a mediação do experiente sommelier Guilherme Corrêa, por ocasião de sua visita ao Brasil.

Um homem aparentemente simples,  mas tão complexo quanto seus intensos vinhos. Um tanto retraído, porém com uma imensa força expressa na postura contra a corrente e os modismos da vinificação moderna.  Focado em seus ideais, no retorno do máximo natural, assim é Josko Gravner.   Experimenta a essência da natureza, através da expressão das uvas, que cultiva organicamente e escolheu vinificar em ânforas de barro, como nos primórdios da natureza.

Josko Gravner o pai moderno da vinificação em ânforas, não se intitula um especialista.
Diz ser apenas um agricultor, um homem do campo. Aos 15 anos ajudava o pai nos vinhedos e de lá para cá percorreu muitos caminhos, dentre eles  alcançou o sucesso ao elaborar vinhos premiados nas técnicas modernas. Vinhos que agradavam a todos, mas não agradavam a ele. Sentia que não era este tipo de vinho que buscava.

Esteve na Califórnia onde provou inúmeros vinhos, que lhe passavam a sensação de uniformidade, mas desprovidos de personalidade. Vinhos ensaiados, sem expressão individual. Lá percebeu o que ele não queria fazer como enólogo. Seu caminho já era longo. Nos anos 80 e 90 obteve todo o sucesso que um enólogo poderia almejar, incluindo o seu destaque pela elaboração de reconhecidos Chardonnays na Itália.

Para o futuro ele já havia ido, resolveu então caminhar no sentido contrário e buscar no passado o conteúdo que pudesse lhe apontar o caminho.

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Foto divulgação

A elaboração dos vinhos de ânfora

A terra faz nascer a uva e na ânfora a terra faz nascer o vinho, assim o ciclo se fecha.” (Josko Gravner)

Escolheu trabalhar com ânforas de terracota levadas para a Itália de  Imereti, na Geórgia na região do Cáucaso (Veja localização no mapa).  As ânforas selecionados são elaboradas com uma argila que não apresenta cádmio e chumbo. Atualmente trabalha com ânforas de 1500 a 2000 litros enterradas.

Fez milhões de experiências para chegar ao melhor resultado. Reduziu a produção por pé ao máximo e testou o tempo de maceração com e sem as cascas das uvas.  Chegou finalmente aos vinhos que gosta de beber. Ele não elabora vinhos comerciais, elabora vinhos para o seu gosto pessoal.

revista-de-vinhos-eno-estilo-vinhos-de-anfora-gravnerOs chamados vinhos laranjas ou vinhos âmbar são vinhos de uvas brancas vinificadas em contato com as cascas por um longo período. 

Atualmente possui cerca de 15 hectares de vinhedos com um rendimento cuidado para ser baixíssimo, de apenas 10 hectolitros por hectare, na região de Gorizia, Oslavia no Friuli, Itália.

Os vinhedos não conhecem herbicidas ou fertilizantes químicos já faz 25 anos. Utiliza o enxofre e o cobre, contra o oídio e o mídio. Procura agregar ao habitat condições naturais de melhor controle de pragas.

Gravner acredita nas fases da lua e usa o calendário lunar na produção. Utiliza somente as leveduras já presentes no vinhedo, que devido ao cultivo natural dele não perecem quando o teor alcóolico atingem o limite padrão (geralmente em torno de 8° a 10°).

O tempo de maceração será determinado pela lua e fica em torno de 3 a 4 meses. Após a prensagem volta para as ânforas pelo período de cerca de 1 ano. Posteriormente utiliza um amadurecimento de 6 anos em bottis de carvalho (Leia sobre BOTTIS) da Eslavônia, Croácia. (Mapa disponível)

A fermentação malolática espontânea deve acontecer e Gravner  julga ser necessária para o vinho natural. Os vinhos não são filtrados e nem clarificados. A utilização das ânforas minimiza a manipulação humana.

Dentre seus potenciais, a ânfora tem o poder de amplificar as qualificações da uva utilizada, para o bem e para o mal. Assim pela experiência de Gravner e o processo com um mínimo de intervenção conclui-se que a produção da uva de extrema qualidade é o ponto crucial neste processo.


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Os vinhos mostram uma intensidade a toda prova, se expressam com vivacidade e identidade. Cada um deles com suas nuances mas primando pelo vigor e pujança percebidos em todas as fases. De um visual com cores intensas a aromas e sabores que instigam fortes e envolventes emoções.

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Foram degustados os vinhos de ânfora:

Leia mais sobre estes vinhos no link ao lado

Ribolla Gialla 2005 – Vinho branco | A análise do vinho…

Ribola Gialla 2006 – Vinho branco |  A análise do vinho…

Bianco Breg 2006 – Vinho branco

Rujno 1999 – Vinho tinto

Os vinhos Ribolla Gialla e o  Bianco Breg são importados pela Decanter.

O vinho Rujno 1999 veio na mala de Josko Gravner para a apresentação e não está mais sendo vinificado.

 

A proposta de Josko Gravner é de andar contra a tendência, já fez e provou ao mundo sua capacidade de produzir vinhos tecnológicos.

Como um “impressionista” rompe com as exigências das técnicas retratistas da época, quebra com a  linha do traço determinado e rígido,  na busca da expressão da essência,  Josko Gravner acredita ao extremo que a terra tem muito a revelar no vinho, cabendo ao agricultor e ao enólogo  permitir que esta história seja contada.  Assim ele faz.  Percebe-se  pelas nuances de aromas e sabores – sem interferência de leveduras selecionadas – em seus vinhos de ânforas.

por Camila H. Coletti
Escritora e editora da revista
(01.02.2015)

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